A Paixão da Onda Marezia
- ruiplp
- 3 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 17 de out. de 2020

Quando olhamos o mar não imaginamos que existem inúmeras ondas, tão diferentes quanto bonitas…….mas existem!
A onda Marezia, de todas as ondas, era a mais sensível, a mais romântica e também a mais sonhadora! Sonhava que um dia iria subir até ao ponto mais alto no céu e “roubar” o sol só para si!
A cada batida da onda, Mariza olhava para cima, e com um sorriso de quem se tinha apaixonado para todo o sempre, lançava os seus braços com pingos de água salgada para alcançar o sol!
Todos os dias e a toda a hora, a rocha Plenitude a via declarar amor eterno ao “seu“ Sol.
O Sol nada respondia e apenas sorria de volta.
Um dia Marezia pediu ao Sol:
- Vem comigo, Sol! Salta daí e vem comigo para eu te mostrar como é lindo o fundo do mar!
- Marezia, já pensaste que tu precisas de mim, mas também o mundo todo precisa? – respondeu-lhe o Sol.
- Mas eu gosto de ti! Quero que estejas hoje e sempre perto de mim - interrompeu Marezia!
Marezia amava aquele sol, aquela forma de aquecer qualquer coração, aquele brilho que iluminava qualquer dia. Queria que aquele sentimento fosse eterno e não conhecia limites, pois o seu amor era tão grande, como enorme foi a decepção da negação ao seu pedido.
Marezia fugiu para o fundo do mar. As suas lágrimas eram tão fortes, que todas as rochas da praia sentiram o seu sofrimento, pela forma como o mar se agitou.
A rocha Plenitude percebia que todo aquele tormento. Marezia só conhecia o amor que engole e que leva para longe o que se ama. Marezia não sabia amar em liberdade.
E desde esse dia, a praia deixou de ter alegria e luz. Marezia tinha levado o brilho de um dia perfeito de praia. O sol chorou e a chuva apareceu num dia de verão.
A rocha Plenitude fez um pedido ao Sol, à areia e às conchas que existiam naquela praia, outrora tão bonita:
- Vamos pedir ao Sol para aparecer, para brilhar, e pedir à Marezia para voltar. Vamos pedir-lhes para estarem presentes nesse dia e assim os dois possam entender que precisam um do outro, como todos nós precisamos deles.
O Sol aceitou, a chuva parou e a onda voltou, sem brilho e triste.
- Porquê que foste embora, Marezia? Porque estás tão triste e triste nos puseste a todos nós? - perguntou o Sol.
- Porque não gostas de mim - respondeu, Marezia, cabisbaixa e com os olhos tristes.
- Achas que não? - perguntou o Sol, com os raios brilhantes, olhando para a sua amada Marezia. Talvez tenha por ti o mesmo sentimento que tens por mim, mas tens de entender que o amor não prende, o amor não rouba, o amor não é posse! O amor é querer ter-te onde tens vida, onde tens tudo o que amo…… Esse brilho só aparece com a liberdade!
- Mas tenho medo que deixes de me amar! Que deixes de gostar de mim! Por isso queria levar-te comigo, entendes? - questionou a onda.
- Sabes, se for amor não morre! Se for amor, ele cresce a cada dia! Agora pensa: e se eu te quisesse comigo? O que aconteceria a este mar? E o que aconteceria a esta praia? O que seria se o mundo não fosse de todos, se fosse propriedade só de alguns? Tudo tem a beleza que tem no sítio onde pertence! O que iria acontecer se levasses uma flor para o fundo do mar só pelo amor que lhe pudesses ter? - questionou o Sol.
- Morreria! - respondeu Marezia. Acho que já entendi o que queres dizer! Posso continuar a amar-te e a respeitar o teu espaço e a tua beleza, aí onde existes, onde tudo ao teu redor fica mais bonito. Se te levasse para o fundo do mar morrerias também! O teu lugar é aí, tal como o meu é aqui!
- Isso mesmo! Se eu te tirar do mar tu deixas de ser a onda Marezia!
E a partir desse dia, sempre que a onda abraçava a areia, agradecia a existência do Sol que ela amava, mas que era de todos! E todos os dias o Sol espreitava, cumprimentando todos com o seu brilho, e com um piscar de olhos dizia à sua amada Marezia: “Está tudo bem, eu te amo!” São felizes respeitando a liberdade e o espaço de cada um!
O Sol brilha para todos, a onda é do mar, a rocha pertence à praia e a flor à terra que a viu nascer! Tudo no seu lugar! Amar é libertar!
Ana Sofia Gonçalves
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