Sarah- “O sonho comanda a vida “
- ruiplp
- 29 de mar. de 2021
- 7 min de leitura

Sarah nasceu no seio de uma família com muito amor e com o “bichinho”das artes!
No entanto, a família vivia com dificuldades financeiras. Sarah e as irmãs apenas viviam com o vencimento do pai, já que a mãe não conseguia arranjar trabalho. Moravam numa modesta casa, nos arredores de Braga. Sarah era uma menina feliz e muito sonhadora! Sonhava em cantar e representar, e o seu sonho maior era a atuar para uma grande plateia ou entrar numa série televisiva…ou, porque não, ambas?! Para ela, a barreira entre os sonhos e a realidade era mesmo a cidade onde vivia, e onde as oportunidades eram quase inexistentes.
O seu apoio e a sua determinação eram alimentados pela mãe. Esperança não deixava Sarah desistir do seu sonho, afinal, como fez questão de pintar na parede da sua sala, ”O sonho comanda a vida“.
Sabia que os sonhos não se guardam na gaveta, e um dia… tudo pode acontecer!
Esperança, sem que ninguém soubesse, resolveu procurar emprego na capital. Sabia que em Lisboa haveria muitas oportunidades para Sarah concretizar os seus sonhos, bem como também mais oportunidades para ter um emprego.
Um dia a boa notícia chegou! Esperança conseguiu emprego numa multinacional sediada na capital. Comunicou à família, e todos concordaram que seria uma separação necessária para que todos pudessem ter as mesmas oportunidades. As irmãs de Sarah, Irina e Lia, estavam a acabar o secundário e pretendiam mudar-se para casa da avó materna, em Coimbra, para conseguirem entrada na Universidade de Coimbra, onde ambas queriam seguir a profissão de médicas, uma na área da pediatria, outra na área da psicologia. O pai sabia que era uma questão de tempo até pedir na entidade bancária onde trabalhava, para ficar sediado nos arredores de Lisboa.
Sarah e a mãe mudaram-se para a capital e ficaram, inicialmente e até o pai conseguir a mudança para Lisboa, na casa de tia Helena ( irmã de Esperança ).
Sarah e Elia (sua prima e filha de Helena) tinham a mesma idade e os mesmos sonhos. Era costume dançarem ao som das suas melodias favoritas, e cantarem os cantores que adoravam. Sonhavam pisar os melhores palcos nacionais e, no caso de Sarah, a sua ambição era mesmo chegar aos palcos internacionais onde poderiam associar o seu gosto pela música com o gosto pela representação.
O emprego de Esperança estava a correr dentro da normalidade e, por fim, o pai já tinha conseguido transferência para Lisboa, embora tivessem optado por continuar em casa de Helena. A adaptação de Sarah à sua nova escola escondia muitas situações de agressões verbais. Era normal ser chamada de gorda e feia,o que a deixava triste. Sabia que a sua aparência não era a de uma modelo, mas também reconhecia em sitraços especiais que a caracterizavam com uma beleza exótica. Olhos pequenos, rasgados, negros que comunicavam com o mundo como se de um sorriso se tratasse, a gargalhada imponente de quem era feliz e vivia no seu mundo encantado. O seu corpo roliço tinha traços bonitos e apreciados por ela. Já há muito tempo que tinha aceitado o seu corpo, e sabia que dificilmente teria um corpo de modelo. Não tinha esse objetivo, era como era e gostava de ser como era!
Sarah sofria… Aceitava-se, mas os ataques à sua aparência eram demasiados para qualquer um! Quando chegava a casa reservava-se ao direito de chorar uns 10 minutos, mas não mais! Chorava pela dor, pelas palavras, mas porque o mundo estava a ser transformado num mundo pouco livre de sermos quem somos, onde todos são iguais a todos e onde a individualidade não é aceite, e onde somos condenados se não temos um corpo magro e uma cara de boneca, igual a tantas caras já muito vistas .
A sua força interior e discurso bem delineado vinha de Esperança, que sempre lhe ensinou que as pessoas não são as suas características físicas, mas sim os valores que têm dentro do seu coração.
Apesar de tudo o que sofria, Sarah mantinha o foco e a determinação para vingar no mundo da representação e música, e nada a poderia demover.
Certo dia, viu no facebook algo que lhe chamou a atenção: tratava-se de um papel numa série juvenil que iria ser transmitida num canal de Televisão.
Esperança tratou de tudo, preencheu a inscrição e rezou para que Sarah fosse chamada, e assim aconteceu.
- Sarah, conseguiste uma audição para a série que vai ser transmitida pela televisão. Mandaram esta cena que tens que estudar para lá representares.- Disse Esperança!
- A sério?! Ótimo mãe! Quando é que tenho que a apresentar? – Perguntou emocionada Sarah!
- Tens de a apresentar para a próxima semana! Agora vai minha filha, vai e entrega-te ao teu sonho! Vive-o!!! – Respondeu Esperança abraçando Sarah.
E, durante aquela semana, Sarah interrompeu as aulas de canto para se focar nas aulas de teatro para conseguir o papel. Todos os dias depois de sair da escola, entrava nas aulas de teatro focada em ser melhor a cada dia. Durante aquela semana, por vezes, deitava-se tarde para ter tempo dedicado a tudo, não queria que a escola ficasse para trás. Sabia que, apesar da música e o teatro serem importantes, mais importante era a escola.
O grande dia chegou, e Sarah saiu-se bem na audição e passou para a 2ª fase!
Entretanto, na escola o assunto da atualidade era Sarah e a sua audição e na turma não faltava quem quisesse gozar com a situação!
- Olha a gorda com a mania de ser estrela! Achas mesmo que alguém te vai escolher? Não era melhor desistires já?- Perguntavam em sussurro quando se sentavam perto dela na sala de aula.
- Ao menos tento concretizar os meus sonhos! E vocês, têm sonhos? Ou o vosso sonho é gozar com os outros? - Perguntava Sarah, com as lágrimas nos olhos.
- Só estamos a ser tuas amigas, mostrando-te que o teu caminho é trabalhar em qualquer pastelaria ou restaurante, para o teu corpo se identificar com as coisas que vendes! - Diziam rindo e atirando o seu estojo para o chão, espalhando canetas, lápis e todo o material pelo chão…
Sarah apanhou o material todo do chão, limpou as lágrimas e foi para casa. Mais tarde quando a mãe chegou encontrou Sarah a chorar no quarto, sentada no chão. As suas redes sociais tinham sido invadidas por insultos e provocações.
Esperança levantou a filha do chão, limpou-lhe as lágrimas, abraçou-a e, abrindo-lhe os olhos, disse:
- Não foi a última vez que ouviste provocações, mas todos esses disparates não têm convite para entrar no teu coração se tu não deixares! Escuta o teu coração! O que ele estava a fazer? Está a desistir de bater forte pelos sonhos, pelo brilho no olhar, pelo sorriso, pela força! Sarah, minha filha, os insultos são presentes que apenas aceitas se quiseres!- Pediu Esperança à filha, como se de uma vitamina de força se tratasse!
- Sim mãe, eu sou forte, mas hoje não consegui… - Respondeu, desiludida por não ter conseguido ser forte.
- Meu amor, não temos que ser sempre fortes, não temos que ser sempre assertivas… Temos de ser tal como somos, e de vez em quando ir abaixo! Chorar não é sinónimo de fraqueza, mas sim que estás a libertar a dor! Isso deves fazer sempre, não pares de sentir e mostrar o que sentes!
- Oh mãe...!!!! - Respondeu abraçando a mãe.
- Filha, as barreiras que terás de passar eu posso-te ajudar a ultrapassá-las! Por isso, juntas iremos ultrapassar tudo isto! - Disse dando a mão à sua Sarah.
Esperança e Mário, seu marido, decidiram não ficar calados e denunciar a situação por Sarah, e por todas as crianças e adolescentes que são vítimas de agressões físicas ou psicológicas, apenas porque fogem dos padrões de aceitação de uma sociedade que acha que pode julgar as pessoas pela aparência, pelos pensamentos, pelas preferências! Uma sociedade que não respeita a diferença! Fizeram um pedido para serem recebidos pela directora da escola, para participar a situação que estava a acontecer a Sarah! Estava na hora de mostrarem que Sarah não estava sozinha e que a violência, seja de que na natureza for, é condenável!
Na mesma reunião decidiram, em conjunto, que a melhor forma de travar o bullying seria incutir na disciplina de Cidadania uma sensibilização desta temática, com trabalhos em grupo e até mesmo um dia em que pudessem, todos em conjunto, falar das suas experiências. Estariam presentes polícias psicólogos, coaches, professores, vítimas e familiares. Juntos, tentariam falar do bullying como algo que pode afetar de forma permanente a vida das suas vítimas, formas de o travar e, acima de tudo, falar de valores, respeito e compaixão pelo próximo.
A disciplina de Cidadania seria para sempre lecionada 2 vezes por semana, com muito trabalho ativo por parte dos alunos e professores!
Sarah e a sua mãe colocaram nas suas redes sociais várias mobilizações de pessoas e entidades que pudessem no dia 20 de outubro (Dia Internacional do Bully), durante todo o dia, dar o seu contributo na escola. Os pedidos foram enviados e bem aceites por toda a área da música, teatro e dança, e artes em geral. Atores, cantores e bailarinos responderam com muito interesse para contribuir! Parecia que todos já tinham sofrido de qualquer tipo de ataque continuado, por uma pessoa ou várias pessoas.
O dia 20 de outubro chegou, e os alunos foram apenas convidados a assistirem a tudo o que se iria passar, desde palestras de testemunhos, sessões de perguntas e respostas, peças de teatro, danças e até grafites sobre a temática. Toda a escola se mobilizou, e foi um verdadeiro trabalho de equipa em que todos estavam juntos pelo mesmo motivo: travar o bullying antes que o bullying trave qualquer sonho, qualquer crescimento, qualquer alegria!
Esperança estava incrivelmente feliz com a forma como Sarah estava feliz com esta movimentação. Tudo porque ela resolveu não esconder o que passava, contou aos adultos com quem tinha mais confiança e, juntos, tomaram a decisão de fazer algo para travar! Era um dia de vitória porque, nesse dia, mais uma vez no mundo, o amor vencia!
Por iniciativa da directora da escola, todos os anos o dia 20 de outubro seria comemorado com várias formas de sensibilização da problemática do bullying.
Sarah e Esperança sabiam que aquele passo não travaria o bullying, mas sabiam ainda que com aquele passo, multiplicado por várias crianças, pais, professores e pessoas certas, mudariam muitas mentalidades! Sarah desculpou as colegas,que também pediram desculpa pelo seu comportamento, e seguiu em frente para conquistar o mundo com o seu sonho.
Apesar dos esforços e da dedicação, Sarah não se apurou para o grupo dos atores escolhidos para a série de televisão. Saiu do teatro, depois da audição, encarou a mãe e disse:
- Vamos embora mãe! Vamos continuar a caminhar porque, por muitos nãos que eu leve sou eu que me levanto, construo mais caminhos e sigo em frente! Os sonhos constroem-se e um dia realizam-se, não é mãe?!
- É isso mesmo Sarah! Um dia tu serás mais uma estrela a brilhar, ao lado de tantas outras! Acredita!- Respondeu com orgulho a mãe babada!
Entretanto, sem se darem conta, tornou-se viral nas redes sociais o vídeo que aí circulava de todo o dia 20 de outubro na escola. Associada às imagens, também estava uma apresentação da história que movimentou toda a ação de sensibilização e, dessa forma, muitos foram os que conheceram Sarah, a história da sua família, seus sonhos e ambições. Sarah aproveitou esse momento de visualização da sua pessoa, cantava e interpretava num canal de Youtube.
Tens a oportunidade de neste conto escolher o seu final :
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