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Bali- O Elefante da Índia

  • ruiplp
  • 16 de set. de 2020
  • 9 min de leitura

Atualizado: 12 de dez. de 2020


- Ai, Bali, como é bom saborear a vida nas tuas costas! – exclamou, Hari, o rato mais destemido e valente das terras de Calcutá.


- Eu sei que gostas, Hari, mas tens de ter cuidado! Podes cair e aleijar-te! - advertiu o cuidadoso Bali para o seu melhor amigo.


Era daquelas amizades improváveis que começou de berço, já que os pais do nosso ratinho eram vizinhos de Krishna e Indira, os pais do nosso elefante jovem Bali.

Habituados a estarem sempre juntos, desenvolveram uma amizade e eram, para o zoo de Alipor, a atracção principal, já que juntos faziam acrobacias incríveis que apenas os melhores amigos conseguem.


Para a cultura indiana, tanto o elefante como o rato são animais bastante adorados. Os elefantes porque transmitem sabedoria, persistência, determinação, amizade e companheirismo. Já os ratos são vistos como Deuses e por essa razão vivem livres. Assim, os directores do zoo de Alipor propuseram a Bali e Hari realizarem alguns números e, assim, serem a atracção principal, para alargar a publicidade do Zoo.


Krishna era um pai companheiro, sempre atento à sua cria. Tinha-se tornado treinador dos dois amigos para que tudo corresse sem sobressaltos. Krishna era um elefante imponente e bastante adorável. A sua doçura era visível no seu olhar, na forma como admirava a sua bela companheira, Indira. Costumava chamar-lhe o que o seu nome significa - gotas de chuva. Já ela, para responder, apenas dizia baixinho:


- Meu Rei, Rei de todos Deuses!


Tinham como vizinhos, uma família de girafas, nascidas em África: o Mandela e a SimSim - já que essa era a típica resposta que dava a cada pergunta de Mandela:


- O Pequeno Bali está enorme, não está?


- Sim, sim, enorme! - respondia só por responder, já que a sua atenção ia para as folhas verdinhas que tinha à sua frente para comer.


- E já viste que a nossa vizinha tigre hoje não saiu da toca? - continuava o sempre curioso Mandela!


- Sim, sim, eu reparei! - e voltava a comer, sem ligar à vida alheia!


Simba e Jessie eram os vizinhos tigres de Benguela, que Mandela também costumava vigiar. Nasceram naquele zoo e eram muito amigos de Bali e da sua família. Óptimos conselheiros, conversadores, adoravam conversar com os jovens Bali e Hari e responder aos inúmeros porquês dos pequenos.


Eram tardes de conversa e muita curiosidade sobre o mundo. Os dois amigos queriam saber tudo e sobre tudo!

Bali era adorado por todos! Nascera ali mesmo no zoo e todos haviam participado nos momentos da gestação da sua mãe. Era a esperança, não só para a sua espécie como também para o zoo.


Hari nascera também no zoo e, lado a lado, comiam, brincavam e faziam as mesmas partidas aos pais.


Bali tinha pelo seu pai uma admiração plena. Não havia para ele outro ídolo ou outra pessoa que ele quisesse ser quando crescesse. Era ele o seu modelo! Ouvia-o com a mesma atenção de quem ouve um mestre. Hari, que via Krishna como um pai também, contemplava-o do topo da cabeça do seu amigo.


Os meses foram passando e era notório que o entusiasmo e alegria de Bali não era o mesmo nas suas apresentações com o seu amiguinho. Sentia o seu pai, Krishna, muito cansado, o seu olhar longe e a sua imponência cada vez mais em baixo. Nunca o tinha visto assim, nunca o viu sem nele ver o rei dos deuses que era.

Bali decidiu ir falar com o seu pai e questioná-lo:


-Pai, meu querido pai, o que se passa contigo? Tu não estás bem! Eu sei!


- Meu querido filho, não te vou mentir! Não me sinto realmente bem, já fiz analises e exames. O Sr. Benji - director do zoo - e Dr. Ismael estão a fazer tudo para descobrir o que se passa e me porem bom. – respondeu, triste, Krishna.


- Pai, e se tu morreres? – perguntou alarmado Bali.


Krishna levantou o olhar, fixou os olhos de Bali e respondeu:


-Se acontecer, se eu morrer, ficas tu o Rei dos Deuses e tomas conta da tua mãe,

ajudando-a, escutando-a e lembrando de tudo o que ao longo destes anos te ensinei! Eu sei que és capaz, és um macho inteligente, sensível e vais conseguir!


As semanas passaram e Krishna encontrava-se cada vez mais fraco e cada vez mais triste. Os seus olhos transmitiam a certeza do fim.


Hari não saía de perto de seu amigo e de noite, para o ajudar a adormecer, sussurrava-lhe ao ouvido:


- Vai ficar tudo bem, amigo! Confia! Acredita nos Deuses! Eu estarei aqui, hoje e sempre, porque os amigos são para sempre!

- Obrigada, meu irmão! - respondia baixinho Bali, já com os olhos fechados.

Nessa noite, perante tanto amor e amizade, Krishna chamou Hari e pediu-lhe:


- Hari, eu sei que gostas muito do meu filho! Toma conta dele! Eu sei que o meu fim está próximo e sei que os dias serão difíceis para ele! Lembra-lhe, nos momentos em que ele se esquecer, que é corajoso e um menino bom. Lembra-lhe que ele terá de ser forte e de estar sempre ao lado da mãe.


- Nunca o deixarei e farei tudo para o seu sofrimento ser minimizado! Mas não fale assim Sr. Krishna, por favor! – pediu-lhe Hari, com as lágrimas nos olhos.


No dia seguinte, quando Bali acordou, havia um grande aparato. Krishna tinha morrido nessa noite e a equipa de veterinários estava já a tratar do corpo. Indira chorava abraçada ao seu filho, que gritava gemidos de dor!


Foram dias de grande sofrimento! Todas as atracções do zoo foram encerradas temporariamente! Todos estavam tristes e Bali era quem mais sofria! Como iria conseguir acreditar que era capaz de substituir um elefante tão supremo como seu pai?! Hari tentava animá-lo e ajudá-lo de todas as formas, mas não estava fácil!


Passadas semanas da morte de Krishna, era visível um novo Bali. O pequeno elefante tinha-se tornado mais forte e mais protector em relação a sua mãe. Assumiu, perante os olhos de todos, as responsabilidades de um macho adulto. Sempre apoiado pela sua mãe, Indira, e pelo seu fiel amigo, Hari.


Um dia, em conversa com os seus vizinhos, Simba e Jessie, Bali confessou que tinha muito receio que o Zoo tivesse a ideia de comprar um novo elefante para a continuidade da espécie.


Tinha razão para esse medo! Era já certo a vinda de outro elefante adulto para o zoo, transferido do Zoo Nacional de Deli. A mãe de Bali, Indira, dona de uma doçura no olhar capaz de derrubar qualquer fortaleza, sabia da necessidade que se impunha. Tratava-se da continuidade de uma espécie, mas estava divida. Por um lado, o coração (foi um grande amor aquele que viveu com Krishna) e por outro, a razão: a continuidade da espécie, a sua sobrevivência e continuidade dos seus. Mas como iria Bali aceitar? Qual seria a sua reacção? Como iria receber o seu padrasto?


Bali ouviu a notícia através de uma conversa entre o veterinário e o director do Zoo, falando numa data para breve, da chegada do novo residente - um elefante vindo de Deli.

Bali não queria acreditar que tal fosse possível!

Dirigindo-se ao seu amigo rato, exclamou:


- Eu não vou aceitá-lo nunca! Eu não quero vê-lo com a minha mãe! Não preciso de um pai! Eu quero o meu pai de volta!


- Tens de aceitá-lo! Não podes mudar as decisões do Zoo, amigo! Por muito que te custe, essa foi a decisão! - disse o amigo, para o chamar à razão


- Eu não quero! Ouviste bem?! Não vou aceitar nunca!


Revoltado, saiu a correr e a emitir sons que preocuparam Indira! Era revolta e dor que transmitia.


O grande dia chegou. Um camião chegou ao Zoo de Alipor, transportando um elefante macho de nome Kabir (que significa O Grande).


- Kabir, esta é a tua nova morada e esta a tua nova família: Indira, a tua fêmea, e o seu filho, Bali. - apresentou o director do Zoo.


- Muito prazer, Kabi, que sejas muito feliz aqui! - exclamou Indira!


- Não penses que vais mandar aqui, mandar em mim ou alterar seja o que for que estejas a pensar! Não queiras que goste de ti! - gritou Bali!!!


- Bom dia, Indira, muito obrigada pelas tuas palavras! Penso que com a ajuda de todos poderei ser feliz aqui! Bom dia, Bali! Gosto da tua valentia ao defenderes o teu pai e defenderes o teu espaço! Entendo o teu receio, mas não quero, nem vou ser teu pai. Não pretendo mandar aqui ou sequer incomodar-te! Quero apenas aquilo que acho que todos querem: que a nossa espécie continue. E quero ser feliz também, fazendo os outros felizes!


Bali virou as costas e foi-se embora. Correu para junto das árvores e ali ficou com os seus pensamentos!


Kabir não tinha sido aquilo que deveria ser para justificar de Bali tal comportamento, tinha sido simpático e cordial, e isso entristeceu Bali. Se Kabir continuasse assim e se fosse realmente genuíno, todos iriam gostar dele e esquecer Krishna!


Hari foi para junto do amigo. Conhecia-o bem e sabia como ajudá-lo a superar.

- Como te sentes, meu amigo? Perguntou ao aproximar-se Hari.


- Mal, amigo! Oh, meu amigo, tenho saudades do meu pai! Não aguento ter outro elefante na pele do meu pai! – disse Bali baixando a cabeça


- Mas ele não é teu pai. É mais velho e pode te ensinar, se tu deixares e se assim quiseres! Mas tens de ser tu a deixar! – aconselhou Hari.


- Tudo o que tenho de saber já sei e, caso não tenhas reparado, amigo, eu já sou um elefante adulto. Não preciso da ajuda dele! - respondeu num tom de voz agressivo, Bali.


- Tens a certeza que sabes tudo? Se o teu pai fosse vivo não teria ainda algo para te ensinar? Deixa-o tentar! – suplicou Hari.


- Não, não insistas! – respondeu Bali.


A qualquer tentativa de aproximação, Bali voltava costas e, com um som forte, abanava as orelhas! Era sinal que estava chateado e irritado. Apesar do conselho de todos, inclusive de sua mãe, Bali continua a resisti!


O Zoo de Alipor divulgou que a atracção principal (Hari, Bali e as suas acrobacias) iriam regressar! Estava na altura de voltar à normalidade, mas faltava um treinador para assumir o papel que antes era preenchido por Krishna. O papel foi atribuído foi a Kabir, mas, para surpresa de todos, este recusou e afirmou que a dupla não precisava de treinador, pois eram maravilhosos sozinhos e que, por ele, seria Bali a assumir esse papel.


Todos concordaram!


Bali e Hari protagonizavam os seus números sempre com muito sucesso! Mas, um dia, num dos saltos para as costas do seu melhor amigo, Hari magoou-se, ficando o espectáculo dos dias seguintes condicionado. Eram precisos dois elementos para qualquer número.


Preocupado, o director do Zoo, convidou Kabir para fazer dupla com Bali, e Bali teve de aceitar. Treinaram, treinaram e fizeram um número com bastante aceitação por parte do público!


Indira decidiu chamar o filho à parte e conversarem.


- Filho, acho que está na altura de entenderes que Kabir é um elefante bom, que quer ser feliz aqui e que gostava de ter uma oportunidade de ser teu amigo, não teu pai! O que te ensinei não foi a respeitares todos? Não te ensinei que devemos tratar os outros como gostamos de ser tratados? Não te ensinei a seres um elefante adulto com valores?


- Mas … - interrompeu Bali


- Mas, nada! Agora ouves! Kabir quer ser teu amigo, não teu pai! O teu pai ensinou-te muita coisa e ensinou-te também os valores que sei que guardas no teu coração! Sei que ele mora no teu coração e de certeza não gostaria dessa atitude tão infantil! Dá uma oportunidade a Kabir! Até porque agora…. – emocionou-se Indira……


- Agora o quê, mãe?! – estranhou Bali.


- Agora trago no meu útero o símbolo da vossa união! Tenho o teu irmão no meu ventre e também ele precisa dos teus conselhos e precisa de viver num ambiente de amor! – explicou, Indira, colocando a sua tromba por cima da cabeça do seu filho.


- Sério, mãe?! - perguntou Bali, com os olhos em lágrimas.


- Sim! Agora vai e faz o que o teu coração manda, mas sê sábio nas tuas escolhas e ouve o teu pai …. Ele mora no teu coração! – pediu Indira, feliz da reacção do filho à notícia da chegada da nova cria.


Durante os 2 anos de gestação, foi notória a aproximação entre Bali e Kabir. Tinham-se tornado, não só muito amigos, como Kabir se tinha tonado o treinador da dupla maravilha!

E o grande momento chegou! Indira entrou em trabalho de parto no dia 17 de Maio e, pelas 22h35, nasceu um pequeno elefante com olhos doces, que cedo se aproximou do seu irmão Bali.


- Bali, eu e a tua mãe decidimos que serias tu a dar o nome ao teu pequeno irmão. -

anunciou o padrasto!


- Eu?! Já sei qual o melhor nome que poderemos chamar a este pequeno amor! - indicou decido Bali.


- Qual?! - perguntaram todos.


- Ishann! Quer dizer “sol”. Penso que foi este sol que me aproximou da luz da sabedoria e lembrou que os elefantes são símbolos dessa sabedoria, de solidariedade, amizade e companheirismo. E tu, Kabir, foste desde o primeiro momento, símbolo de persistência, determinação e companheirismo! Obrigada, meu amigo! Vamos juntos, com amor, criar Ishann em família, com sabedoria!

Ana Sofia Gonçalves

 
 
 

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